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Sou Sustenidos conversa com Ana Lucia Lopes – gerente de formação, acervo e memória Theatro Municipal

por Marcus Vinicius Magalhães

Com o principal objetivo de destacar os colaboradores da Sustenidos, trazendo entrevistas individuais sobre como é trabalhar em uma OS, a partir de diferentes perspectivas, a editoria Sou Sustenidos chega a sua terceira edição. A coluna já conversou com o gerente artístico musical do Conservatório de Tatuí, Renato Bandel, e com a gerente do projeto Musicou, Fernanda Solon.

Compartilhado em primeira mão aos assinantes da newsletter Sustenidos Conecta, o post é mensal e, dessa vez, conta a história da Ana Lucia Lopes – Gerente de Formação, Acervo e Memória do Theatro Municipal.

. Ana Lucia Lopes. Foto Acervo Pessoal

Nascida no bairro da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro, Ana Lucia cresceu no município de Nova Iguaçu, onde se formou em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia Ciência e Letras de Nova Iguaçu (1977). Em São Paulo, realizou mestrado em Ciência Social -Antropologia Social- pela Universidade de São Paulo (1997). No ano de 2006, se tornou doutora também pela USP. Ela trabalhou por 16 anos no Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, antes de chegar em 2021 na Sustenidos.

Filha de pais socialistas, Ana Lucia sempre esteve ligada a pautas políticas públicas sociais. “Na década de 1970, eu comecei a fazer ações de mobilização para melhoras no meu bairro, trabalho de educação para adultos. Então, a minha geração começou muito cedo a fazer ação política no sentido da ação concreta, de ação reparadora”, conta ela.

“Inicialmente, eu escolhi trabalhar em escolas da Baixada Fluminense, mesmo já podendo trabalhar em qualquer cidade, porque os concursos eram estaduais. Eu poderia escolher o município de minha preferência, mas eu fiquei nos bairros mais periféricos da baixada mesmo”, complementa.

Pedagoga, antropóloga e professora, Ana Lucia trabalhou por mais de 30 anos em instituições de ensino. “Eu já tenho muito tempo dentro de escolas. Eu fui diretora, professora e principalmente coordenadora pedagógica em escolas públicas, de comunidade, de sindicato e até escola de classe média aqui em São Paulo, então atravessei vários níveis, várias camadas do ensino”, revela.

Após realizar seu mestrado em Ciência e Antropologia Social em São Paulo, Ana foi convidada pelo saudoso escultor Emanoel Araujo para participar do comitê que fundou o Museu Afro Brasil, em 2004. “Quando Emanoel fez a exposição Memórias de negros para nunca, jamais esquecer, eu fui chamada por ele para formar a área de educação, por não estar satisfeito com os trabalhos realizados no educativo. Então, eu passei a compor essa equipe, pensando na perspectiva educacional do museu. Eu era antropóloga, mas tinha uma perspectiva de educação, uma experiência de educação muito grande, maior do que a de antropólogo”, conta ela, que ficou na instituição por 16 anos.

Na função de conselheira curatorial, Ana revela que passou o ano de 2004 inteiro montando a proposta do Museu Afro, se tornando posteriormente coordenadora do Núcleo de Educação. Em 2009, ela também passou a integrar o projeto Fábrica de Cultura na Secretaria de Educação. “Depois da experiência incrível na Fábrica de Cultura, eu fiquei integralmente no Museu Afro, mas não mais no Núcleo de Educação, mas sim em uma função de planejamento curatorial ao lado de Emanoel”, diz ela.

“Nesse tempo todo que fiquei no Museu Afro, eu estive sempre junto do Emanoel, articulando, discutindo e fazendo uma coordenação mais geral dos núcleos de pesquisa, educação e a parte de museologia nesse conjunto de núcleos”, completa.

Ana ficou no Museu Afro até o ano de 2020, antes de receber o convite para integrar o antigo projeto Guri. Em 2021, quando ela aceitou o convite, ela foi convidada para participar do Conselho de Administração da OS, no momento de transição para a Sustenidos.

“Inicialmente, eu não tinha a mínima ideia de que eu trabalharia um dia no Theatro Municipal, pois eu, inicialmente, fui convidada pelo presidente do Conselho para pensar na possibilidade de implantar uma gerência. A minha relação inicial com a Sustenidos me impressionou de cara, pela seriedade das pessoas que compunham o Conselho, o número de reuniões, a dedicação, o envolvimento. Era uma coisa que dava prazer de participar”, conta ela

Ana, então, sugeriu fazer um trabalho voluntário durante um mês no Theatro Municipal, para entender como era o processo na instituição e verificar se conseguiria sustentar o trabalho lá dentro. “Eu fiquei lá como voluntária, ajudando, discutindo, entendendo a lógica um pouco, aquilo que dá para entender em 30 dias”, revela.

Após assumir o desafio de ser a gerente do acervo do Municipal, Ana conta que realizou uma reestruturação na área “É importante dizer que é uma gerência de formação, acervo e memória e que fomos nós que colocamos a palavra acervo. Se a gente chamasse apenas gerência de formação e memória, não daria conta de tudo que acontece no departamento”, revela.

“Nós colocamos a palavra acervo no nome para poder reforçar a ideia e a necessidade de um núcleo de acervo que tivesse um tratamento quase museológico, um tratamento sistêmico para o seu acervo, porque nunca existiu no Theatro Municipal”, conta

“Existiam tratamentos por figurinos pontuais e importantes, mas o Municipal nunca teve uma equipe que cuidasse especificamente do acervo, tanto é que a gente chegou lá e não sabiam nem quantas peças tinham, 20 mil, 30 mil, 100 mil, um milhão. Ninguém sabia, nem a fundação sabia na época”, complementa.

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