fbpx

Itamar Assumpção, a Vanguarda Paulista e a produção independente

Itamar Assumpção, vulgo ‘Nego Dito’, nasceu em 1949, na cidade de Tietê e lançou seu primeiro álbum em 1980, com a banda Isca de Polícia – o icônico Beleléu Leléu Eu, de produção independente, carregando muito do que o artista trazia como característica em suas performances: um experimentalismo plástico-cênico-musical consonante com o espírito do movimento cultural denominado convenientemente pela crítica da época como “Vanguarda Paulistana”. Segundo o dicionário Cravo Albim, o termo se consolidou como referência à geração musical (1979-1985) que tinha como reduto um espaço alternativo que, nos anos 1980, abrigou diversificadas experimentações musicais, como o teatro Lira Paulistana, localizado na Praça Benedito Calixto, em São Paulo, da qual Itamar foi uma das figuras mais emblemáticas.

Não são muitos os artistas que conseguiram sintetizar em sua obra a complexidade das sensações e estímulos vivenciados por alguém na cidade de São Paulo. A esse ritmo da metrópole lançou-se em Itamar, artista negro e independente, na contramão dos procedimentos impostos pela indústria cultural. “Viveu a beleza e a dureza de ser independente, num país de capitanias hereditárias pouco afeito a esse formato” mencionou Djamila Ribeiro em um artigo publicado no museu virtual dedicado ao artista, fato reafirmado no disco Às próprias custas (1983), bancado pelo próprio artista e gravado a partir de uma série de shows em São Paulo. Sua discografia seguiu na década de 80 com Sampa Midnight (1986) e Intercontinental! Quem diria! Era só o que faltava!!! (1988). Na década de 90, já acompanhado pelas Orquídeas do Brasil – banda formada exclusivamente por mulheres – gravou Bicho de 7 cabeças vols. I, II e III. De volta com Isca de Polícia gravou Ataulfo Alves por Itamar Assumpção e o último, gravado antes de seu falecimento em 2003, Pretobrás.

Na vida sou passageiro
Eu sou também motorista”
(“Vida de artista”, do álbum Pretobrás)

Sua produção no entanto não se esgotou. Ainda foram lançados postumamente os dois volumes restantes de Pretobrás, com a participação de diversos artistas. Isso vai dar repercussão fecha o ciclo em uma parceria com Naná Vasconcelos.

“Você quer harmonia, mas que harmonia é essa?” Modulações inusitadas, colagens de falas e melodias, vozes em arranjos que parecem ser feitos para naipes de sopros; breques e jogos rítmicos de um groove-reggae-de-breque experimental; flertes com a música atonal, carregado de imagens. Há muito mais o que se dizer sobre Itamar, mesmo porque seus discos não se limitavam à música. São enredos.

Referencias:
Dicionário Cravo Albim da Música Popular Brasileira. Disponível em https://dicionariompb.com.br/
Museu Virtual Itamar Assumpção. Disponível em https://expo.itamarassumpcao.com/
Programa ensaio (TV Cultura:1999). Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=uiQxFFWrx-Y

Texto escrito por Luiz Fidalgo, Coordenador Técnico-Artístico-Pedagógico da Sustenidos, organização gestora do Projeto Guri

 

Dia Consciência Negra: tempo de lembrar da luta contra desigualdade social

Consciência Negra 3

É preciso eliminar do caminho o racismo, o preconceito, o machismo, a homofobia e todas as formas de desigualdade social. Os desafios são muitos, mas a Sustenidos Organização Social de Cultura tem o diferencial de contar com uma superintendência de desenvolvimento social que garante a promoção do tema na prática, em de acordo com as demais diretorias. Ter uma área específica, porém, não é privilégio, é compromisso com a sociedade e respeito ao ser humano.

Na rotina da instituição, as práticas pedagógicas e as atividades socioeducativas levam em consideração o repertório e a identidade local, bem como o perfil diversificado da comunidade, valorizando os grupos étnicos e populações específicas, como a cultura das tribos indígenas e quilombos, entre outros grupos que constituem nossa comunidade. Esta variedade territorial e cultural transforma a diferença em potência.

Assim, no Dia da Consciência Negra (20/11) nossa função é reforçar a importância da batalha cotidiana pela equidade racial na sociedade brasileira. “A data é uma referência aos movimentos que lutam pela igualdade e equidade racial no País e uma homenagem à população negra que diariamente resiste e persiste em se manter viva, apesar das forças contrárias”, lembrou Francisco Cesar Rodrigues, Superintendente de Desenvolvimento da Sustenidos Organização Social de Cultura.

Com esse enfoque, nossos educadores e nossas educadoras incentivam a participação ativa e reflexiva dos alunos e das alunas, promovendo o diálogo em consonância com a prática do ensino coletivo, de forma a valorizar e respeitar o repertório trazido de casa. Um exemplo foi a riqueza gerada pelo Trilhas Culturais, trabalho de pesquisa e mapeamento realizado por alunos e alunas do Projeto Guri em seus municípios.

Durante as atividades socioeducativas são trabalhadas questões de gênero, empoderamento de meninas, inclusão, igualdade e equidade raciais. Temas que dialogam tanto no campo da formação humana, como na mobilização social de empregados, empregadas, alunos, alunas, famílias, redes e comunidades.

A busca por esta sociedade mais justa e igualitária faz parte da rotina em “promover, com excelência, a educação musical e a prática coletiva da música, tendo em vista o desenvolvimento humano de gerações em formação”.

Há muito para caminhar, mas há avanços. O contrato de gestão do Projeto Guri com a SECEC – Secretária Estadual de Cultura e Economia Criativa, por exemplo, garante vagas para 64% de alunos e alunas em situação de desproteção social, tendo como novos critérios de análise Guris de famílias com renda per capita de até ½ salário mínimo, de etnia negra, parda e indígena, com deficiências, síndromes e transtornos, em situação de violação de direitos, em medidas protetivas e em medidas socioeducativas de internação.

Para além de promover a aquisição de habilidades e conhecimentos, a Sustenidos reafirma o potencial transformador do conhecimento, com direito inalienável do cidadão à cultura, com ênfase na linguagem e na aprendizagem da música, contribuindo para a formação de sujeitos integrados positivamente na sociedade.

Para nós, hoje é mais um dia de reforçar a raça, a voz e a cultura ancestral africana, berço da humanidade.

Acompanhe nossas redes sociais e saiba mais:

https://www.facebook.com/Sustenidoscultura

https://www.facebook.com/ProjetoGuri

 

 

 

 

DJ Negralha e convidados debatem a questão racial no meio musical e cultural

Negralha1

A live “Questão racial no meio musical e cultural” será realizada no dia 23 de novembro, das 14h às 15h30, e transmitida pelo Facebook do Projeto Guri e da Sustenidos (gestora do programa). Presença de DJ Negralha (o Rappa), Alessandra Costa (coordenadora do Polo Nelson Mandela) e de Enzo Pires Delesposti dos Santos (aluno do Grupo de Referência de Piracicaba), sob a mediação de Nilza dos Santos (supervisora de desenvolvimento social). Alunos e alunas do curso de violão do Polo Cabreúva terão uma participação especial gravada.

Destacamos a participação de alunos dos Polo CASA, que formularam questões para participarem ativamente deste diálogo e, assim, reforçarmos a importância da atuação do Projeto Guri na efetividade da medida socioeducativa, como espaço de produção artística e acesso ao direito à cultura e participação social.

DJ Negralha é músico, produtor cultural e comandou as pick-ups da banda O Rappa por mais de 20 anos. Ativista em diversos projetos sociais, Negralha abordará sua trajetória na música, preconceitos, desafios e sobre a profissão.

Alessandra Costa é coordenadora do Polo Nelson Mandela da Regional Jundiaí, estuda artes e comunicação, faz produção cultural e é ativista de programas periféricos.

Nilza dos Santos é supervisora de desenvolvimento social do Projeto Guri em São José do Rio Preto, com formação em serviço social e pós-graduação em políticas públicas.

Enzo Santos tem 19 anos é integrante do Grupo de Referência de Piracicaba – Coro e estuda percussão no Conservatório de Tatuí. O jovem será o porta-voz dos alunos e alunas e terá a missão de ouvir, compilar e organizar as questões levantadas previamente pelos Guris do Polo Nelson Mandela e de outros três polos da Fundação CASA na região da Campinas.

“O Dia da Consciência Negra é uma referência aos movimentos que lutam pela igualdade racial no País e uma homenagem à população negra que diariamente resiste e persiste em se manter viva, apesar das forças contrárias”, lembrou Francisco Cesar Rodrigues, Superintendente de Desenvolvimento da Sustenidos Organização Social de Cultura.

Geraldo Filme, o conhecimento e o samba como ferramenta política contra a opressão

Geraldo Filme

Geraldo Filme (foto) nasceu em 1928, em São João da Boa Vista, interior de São Paulo, no ano de 1933, e mudou-se com a família para a Barra Funda, São Paulo/SP. Frequentou Pirapora do Bom Jesus – territórios relevantes pelos encontros e práticas dos chamados batuques paulistanos.  Era conhecido como Geraldão da Barra Funda.

Compôs diversos enredos para o Peruche e Vai-Vai, sendo o autor de ‘Tradição’, um samba que tornou-se uma espécie de hino do Bixiga. Suas músicas traziam reivindicações ao reconhecimento das potencialidades dos negros de forma ampla na sociedade.

Aprendeu com sua mãe a se defender pelo conhecimento e sua ferramenta política: a composição. Geraldo Filme foi um grande pesquisador das dinâmicas e causas sociais opressoras.

É uma prática das equipes de supervisão e educadores trazerem suas composições em atividades socioeducativas para os alunos do Projeto Guri. Nos centros da Fundação CASA ocorreram algumas atividades planejadas pelas equipes de supervisão educacional e de desenvolvimento social com este enfoque. Destaque para as ações realizadas no complexo Raposo Tavares e no Brás. No ano de 2016, foi realizado pelo supervisor Julio Cesar, um arranjo de ‘Tradição’ (Geraldo Filme), disponibilizado e executado por alguns grupos de percussão. O objetivo deste arranjo é aproximar o aluno e a aluna deste contexto histórico (promovido pela cultura negra), a partir da prática e compreensão das estruturas rítmicas e melódicas do samba.

Indicamos para uma apreciação as músicas: ‘Tradição’, ‘Silêncio no Bixiga’ e ‘Tebas, o escravo’. Em ‘Tebas’, Geraldo descreve a existência de um relevante arquiteto negro (escravizado) que desenvolveu e executou alguns importantes projetos arquitetônicos: a) a torre da catedral da Sé, b) ligações hidráulicas sanitárias no centro de São Paulo, entre outros. Tebas negociou e conseguiu sua alforria em troca destas atividades. Geraldo sempre destacou a luta e a resistência a partir dos saberes afro-diaspóricos. Sua estratégia, o samba.

Ver também:

O Canto dos Escravos (1982) – Álbum.

Programa Ensaio sobre Geraldo Filme. TV Cultura (1992).

Documentário Geraldo Filme (1998).

Tebas – Arquiteto Negro na São Paulo Escravocrata (2019) – Livro.

Algumas composições do disco ‘O Canto dos Escravos’ foram apresentadas por alunos do Projeto Guri no espetáculo ‘Calungá – O Mar que Separa é o Mar que une’ (2012), como mostra a faixa Muriquinho.

Texto escrito por Rafael Y Castro – Coordenador Educacional da Sustenidos, percussionista e pesquisador

 

Edição 2020 do MOVE, programa de intercâmbio, foi cancelado em todos os países

Infelizmente a edição 2020 do programa Move – Musicians and Organizers Volunteer Exchange foi cancelada em todos os países participantes. Sendo assim, todo o processo seletivo que estava em andamento no Brasil foi também cancelado e os candidatos pré-selecionados foram dispensados. Todo o material enviado pelos candidatos foi devidamente inutilizado, em ação positiva de preservação do direito sobre imagem, som e dados pessoais fornecidos à Sustenidos.

Por uma decisão da JM Norway e da Norec, organizações que administram os recursos e o projeto nos quatro países participantes do Move, foram interrompidos os preparativos para o intercâmbio de 2020/2021. Até o momento não existe uma nova data para retomada do projeto, devido às dificuldades impostas pela pandemia de Covid 19. A Sustenidos informa que, assim que autorizado, o projeto será reiniciado e uma nova agenda para o processo seletivo será publicada amplamente.