fbpx

Sou Sustenidos conversa com Fernanda Solon – gerente do projeto Musicou

por Marcus Vinicius Magalhães

Seguindo com o objetivo de destacar os colaboradores da Sustenidos, trazendo entrevistas individuais sobre como é trabalhar em uma OS, a partir de diferentes perspectivas, a editoria Sou Sustenidos chega a sua segunda edição. A coluna conversou, no mês passado, com o gerente artístico musical do Conservatório de Tatuí, Renato Bandel.

Enviado em primeira mão aos assinantes da newsletter Sustenidos Conecta, o post é mensal e, dessa vez, conta a história da gerente do projeto Musicou, Fernanda Solon.

Fernanda Solon – Foto Divulgação

Nascida em São Paulo, mas morando boa parte de sua vida em Minas Gerais e no Mato Grosso, Fernanda Solon Barbosa, ou simplesmente Fer Solon, acaba de completar três anos como colaboradora da Sustenidos. Ela, que entrou na organização social para o cargo de Analista de Planejamento, se tornou a gerente do principal programa da Sustenidos, o projeto Musicou.

Formada em Rádio e TV pela Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT, com foco inicial pela área do audiovisual, Fer iniciou seu trabalho com cultura no Sesc Mato Grosso, onde trabalhou como produtora cultural durante cinco anos.

“Eu entrei no Sesc como analista de programas sociais do audiovisual, depois eu fui para alguns cargos de gestão, me tornando depois assessora de cultura. Então, eu cuidava de todo o programa cultura do SESC em Mato Grosso”, conta ela.

Fernanda Solon como produtora do Sesc Mato Grosso. Foto Divulgação

A vontade de voltar para São Paulo e o desejo de conseguir trabalhar “apenas” de segunda a sexta-feira, algo inimaginável para uma produtora cultural, fez com que ela concluísse seu ciclo no Sesc no começo de 2020. Ela se programou para tirar um período sabático, para descansar e viajar, antes de buscar oportunidade na sua cidade de origem. O que ela não imaginava é que a pandemia da COVID19 faria com mudasse o rumo das coisas.

“Todos os planos foram abortados, passagem aérea comprada foi perdida e acabei ficando o ano de 2020 pandêmico em casa. Como minha mãe e meus irmãos moram em Cuiabá, eu fiquei em casa com eles”, conta ela.

Novos dons
Já que não tinha perspectiva de retomar à normalidade de rotina, por conta da pandemia, Fer aproveitou esse período para começar a fazer ilustrações e a pintar. E o hobby para lidar com a quarentena acabaria se tornando um trabalho.

Fernanda Solon mostrando seu talento como ilustradora. Foto: Acervo pessoal

“Eu montei uma linha de papelaria ilustrada e aí foi uma “saidinha” desse mundo um pouco mais metódico, porque eu sempre fui produtora, então a parte de ser produtora é sempre muito metódico. Posso dizer que foi um momento que eu consegui respirar um pouco mais, em um trabalho mais criativo, e ver outras coisas pra além desse mundo tão corporativo”, conta ela mostrando várias de suas ilustrações, de aquarela e nanquim, coladas na parede de sua casa.

Quando chegou em São Paulo, em janeiro de 2021, Fer abriu a sua papelaria e conseguiu trabalhar na cidade, mesmo em um dos momentos mais difíceis do período da pandemia.  “Foi muito doido, porque eu vim com o intuito de viver da minha arte lá na Avenida Paulista, pois eu gostava de fazer retrato e figuras humanas. Tinha uma parte dos meus desenhos um pouco mais surrealistas, mas eu gostava de fazer figuras humanas”, conta com bom humor.

“Eu acabei montando a minha papelaria aqui, consegui alguns fornecedores e realizar trabalhos bem legais em São Paulo. Durante um bom tempo, eu trabalhei com isso”, completa.

Registros de oficinas realizadas no Sesc Mato Grosso. Foto: Divulgação

Mesmo conseguindo unir o trabalho da ilustração com sua vontade de morar em São Paulo, tendo os finais de semana livre, como era de seu desejo, ela percebeu que o seu objetivo era mesmo retornar ao mundo corporativo.  “Por mais que fosse legal e eu gostasse ser autônoma, eu sempre quis voltar para o trabalho formal. Eu acho que daria uma enlouquecida se ficasse só me gerindo aqui como artista, por isso pensei em procurar um outro trabalho para complementar”, revela ela.

Na Sustenidos
Em julho de 2021, Fer começa a sua história dentro da Sustenidos. Seu primeiro trabalho, como Analista de Planejamento, a tornou responsável pelos contratos de gestão da Organização Social de Cultura.

“Nessa fase, a gente ainda tinha o projeto Guri; o Conservatório de Tatuí tinha acabado de entrar na Sustenidos. Então, a ideia do meu cargo era fazer um meio de campo entre a Sustenidos e a Secretaria de Cultura, com a prestação de contas, prestação de dados, informação e relatório. Ou seja, era um trabalho bem metódico nessa parte de levantar essas informações e organizar”, revela ela.

Em um momento de mudanças dentro da empresa, que poucos meses depois “perderia” um de seus principais projetos, o Guri, ela recebeu o desafio de atuar no promissor projeto Musicou. “O projeto Guri deixou de integrar a OS, obrigando a Sustenidos a se reestruturar nesse processo. Em meio a essa fase turbulenta, nós tínhamos que redesenhar todo o planejamento, sendo colocado em prática o projeto Musicou”, conta.

Fernanda Solon participando de reunião com a equipe Musicou. Foto Divulgação

Ela revela que o primeiro desafio de sua nova função era mostrar que o Musicou não seria o tapa-buraco do Guri, até porque o formato e a proposta eram totalmente diferentes. Criado pela Sustenidos, o Musicou nasceu como um programa de educação musical para crianças e adolescentes. Atualmente, o projeto está presente em quatro regiões do Brasil, oferecendo aulas de música gratuitas para crianças a partir de seis anos, adolescentes, jovens, adultos e pessoas idosas. Em 2024, o projeto inaugurou uma metodologia completa e acessível para acolher, preparar e lançar novos artistas para o mercado.

Outra diferença com o Guri, que tinha a sua atuação apenas no estado de São Paulo, o Musicou está atualmente em 21 núcleos espalhados nos estados do Ceará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná e Pernambuco, sendo apenas três deles no estado de São Paulo.

“A gente sempre fala muito disso, do Musicou não chegar com esse olhar colonizador nos territórios. Tipo, não chegar com essa ideia de que viemos de São Paulo com um projeto revolucionário para eles”, conta ela.

Fernanda diz que, além de oferecer aulas de música de graça, o principal objetivo do Musicou é oferecer uma proposta que dialogue com o local e como ela fará sentido para a comunidade. “O Musicou vem com uma abertura de olhar e de ouvir muito o que é pedido. Tanto é que se você passar pelos nossos núcleos, você vai perceber que cada um deles tem um falar diferente. E não é só pelo sotaque, que é diferente, é pela acolhida desse território, das pessoas que compõem esse lugar”, explica ela.

Sobre o crescimento do Musicou
Com a ajuda de patrocinadores, o Musicou tem a possibilidade de chegar não apenas nas capitais como também em municípios distantes dos grandes centros. Além de Recife, Olinda, Fortaleza e São Paulo, o projeto está presente nas comunidades paraibanas de São Vicente do Seridó, Baraúna, Pedra Lavrada, Nova Palmeira e Picuí, nos municípios cearenses de Quixeramobim e Quixadá, nos municípios paulistas de Paulínia e Euclides da Cunha Paulista, além das cidades paranaenses de Santa Mariana, Andirá e Porecatu.

Fernanda Solon participando de evento em um núcleo Musicou. Foto Divulgação

“O Musicou é um projeto majoritariamente via lei de incentivo. Eu digo majoritariamente porque hoje a gente tem unidade que é de verba direta, de captação de verba direta que não passa pela lei Rouanet, mas majoritariamente ele é um projeto que se começa inclusive via captação da lei Rouanet. Isso significa que a gente pode ter empresas patrocinadoras de qualquer lugar do Brasil que queiram patrocinar o Musicou, que queiram levar o Musicou para as suas localidades”, explica ela.

Usando como exemplo a CTG Brasil, uma das empresas patrocinadoras do projeto, a companhia está fazendo um processo de instalação de energia eólica no estado da Paraíba e de energia solar no município mineiro de Arinos, locais onde o Musicou está presente.

“A Sustenidos vem com o trabalho de responsabilidade social dessas empresas que estão ali começando seus empreendimentos. Já as empresas patrocinadoras, como a Nubank, que permitiu que escolhêssemos os locais, nos permitiu que ampliássemos o nosso trabalho no Ceará e também em levar o projeto para o estado de Pernambuco”, revela ela.

Fernanda reforça que, quando se faz um desenho geográfico do Musicou, influenciada pelo perfil das empresas patrocinadoras, é possível pensar em como o projeto pode atuar melhor na região escolhida e acolher os profissionais que farão parte da manutenção do núcleo. “Eu fico muito feliz por conseguir dialogar ali com os meus pares sobre a importância do fazer coletivo, do olhar, de que as pessoas são as partes mais importantes de qualquer processo. Não adianta a gente estar aqui muito redondinho nos processos, nos fluxos e nos processos administrativos, se a gente não valorizar as pessoas primeiro”, conta Fer.

Fernanda Solon conversando com alunos do projeto Musicou. Foto Divulgação

“Então, o cuidado que você tem com essa pessoa, a forma que você acolhe, a forma de entender as diferenças, de entender que os processos que acontecem em São Paulo são diferentes dos processos que acontecem na Paraíba, que acontecem no Paraná. Respeitar essas diferenças e, ao mesmo tempo, trazer para o fazer coletivo, para trazer para o espaço de acolhimento, de escuta, de não vir com um processo tão verticalizado, mas sim processo mais horizontal, de abertura para a conversa, de abertura para entender o que faz sentido para o outro, que talvez não faça tanto sentido para a gente, mas num contexto seja melhor aplicado”, conclui.

Momento profissional

Aos 32 anos, Fernanda faz uma reflexão sobre o seu momento profissional, acreditando que encontrou a felicidade no trabalho cultural, social e coletivo. “Isso é muito curioso, porque eu comecei a fazer faculdade de comunicação pensando em uma coisa, em um formato, então me descubro trabalhando dentro do SESC com trabalho social. Daí eu saio desse trabalho e volto a atuar com trabalho social dentro da Sustenidos”, diz com bom humor.

Fernanda Solon em inauguração de um novo núcleo Musicou. Foto Divulgação

Com o seu objetivo de trabalhar em São Paulo concretizado, Fer acredita que o trabalho pelo coletivo das pessoas é o que realmente faz sentido profissionalmente. “Eu concluí recentemente uma pós-graduação em ESG, justamente para conseguir trazer uma parte desse coletivo, que faz muito sentido para o mercado de hoje. Na minha trajetória, o trabalho pelo outro sempre foi o que fez mais sentido. O entender as necessidades das pessoas, entender como eu posso contribuir enquanto ser humano para um mundo que faça mais sentido, sabe?”, reforça ela.

“Mesmo todos os perrengues que a gente vive no dia a dia, eu me identifico por ser um trabalho acolhedor e com propósito. Seja na Sustenidos, seja em qualquer outro lugar, eu me vejo por esse trabalho pelo outro”, explica ela.

“Hoje, o Musicou me permite isso, de estar em outros lugares. Eu sempre trabalhei viajando, mesmo na época do Sesc. Ouvir outros sotaques, ouvir outras formas de viver, te traz um olhar que é muito único, sabe? É uma coisa que é você sair da sua bolha e da sua verdade absoluta, de entender que existem outros formatos de fazer cultura, de fazer trabalho, de estar no coletivo, de estar na vida das pessoas”, complementa ela.

Perguntada se consegue trabalhar de segunda a sexta atualmente, como desejava há quatro anos, ela respondeu que “mais ou menos”, mas que consegue manter a qualidade da vida pessoal e profissional.

“Com o passar do tempo eu consegui me organizar muito mais mentalmente, porque capricorniana, workaholic, né? Odeio termos em inglês, mas sempre trabalhei muito, então foi um tempo ali para conseguir tirar o pé do acelerador e entender que eu também preciso respeitar o meu tempo”, conta ela.

“Mas eu consigo mais ou menos trabalhar de segunda a sexta, porque a gente tem núcleos que funcionam aos sábados, então a gente acaba trabalhando com essas unidades. Algumas delas começam às sete horas da manhã, outras que vão até nove horas da noite. Então, você está ali no espectro de atendimento”, explica Fer.

“Só que hoje a gente também tem uma equipe muito mais consolidada do Musicou. As coordenações de núcleos, educadores e educadoras, eles estão muito mais apropriados do projeto. Então, a gente consegue dar uns respiros ali e não estar o tempo todo também dentro do projeto. A gente consegue deixar eles caminharem um pouco também”, conclui.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *